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Journal of the Selva Andina Biosphere

versión impresa ISSN 2308-3867versión On-line ISSN 2308-3859

J. Selva Andina Biosph. v.8 n.2 La Paz nov. 2020

 

https://doi.org/10.36610/j.jsab.2020.080200080

Artigo de Investigação

 

Produção orizícola no município de São Gabriel, RS (Brasil)

 

Rice production in the municipality of São Gabriel, RS (Brazil)

 

 

Traversa-Tejero Ignacio Pablo1*, Bortolotto-Cantarelli Rogério2

1Universidade Federal do Pampa. (Brasil). Endereço: Rua 21 de Abril, nº 80. Cidade Dom Pedrito, RS. Brasil. CEP: 96450-000.
2Instituto Riograndense do Arroz. (Brasil). Endereço: Rua Duque de Caxias S/N°. Cidade São Gabriel. RS. Brasil. CEP: 97300-000.
rogerio-cantarelli@irga.rs.gov.br

*Dirección de contacto: Universidade Federal do Pampa. (Brasil). Endereço: Rua 21 de Abril, nº 80. Cidade Dom Pedrito, RS. Brasil. CEP: 96450-000.

Ignacio Pablo Traversa-Tejero
E-mail: igtraversa@gmail.com
ignaciotejero@unipampa.edu.br

Historia do artigo.
Recebido em maio, 2020.
Devolvido em setembro, 2020
Aceito em setembro, 2020.
Disponível online, novembro de 2020.

ID de artigo: 093/JSAB/2020

J. Selva Andina Biosph. 2020; 8(2):80-91.

 

 


Resumo

O arroz é um cereal presente em todos os continentes onde diariamente é à base da alimentação de quase metade do planeta ao tempo de fornecer a maior parte da renda principal de milhões de fazendas. A produção de arroz irrigado no sul do Brasil possui características peculiares se comparada a outras atividades agrícolas. Esta pesquisa teve como objetivo analisar os fatores de produção das áreas ocupadas pela cultura do arroz no município de São Gabriel, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Foram usados os dados primários de um banco de dados estatísticos. De forma complementar, foram aplicados questionários de campo contendo dez variáveis da safra do cultivo 2017/18. Logo, a informação foi tabulada e analisada por meio de estatística descritiva. Verificou-se que a cultura do arroz é tecnificada e com alto uso de insumos. Os fatores que mais influenciam na produção de qualidade e altas produtividades são: a fertilização diferenciada de base potássica, o uso de sementes certificadas e tratadas que diminuem o arroz vermelho, a substituição do plantio convencional por outro mais eficiente e conservacionista.  Os níveis de produtividade atingem o valor médio de 8083 kg/ha, que superam tanto a média estadual como a nacional. A informação dos pacotes tecnológicos analisados nesta pesquisa é referente aos dados produtivos mais elevados do Brasil, por isso, servem como guia aos agentes ligados diretamente ao setor e aos formuladores da política agrícola do Brasil. Próximas pesquisas deveriam se focar no estudo da eficiência econômica e a redução de custos.

Palavra-chave: Arroz, sistema de produção, tecnificação.


Abstract

Rice is a cereal present in all continents where it is used daily to feed almost half the planet at the time of providing most of the main income of millions of farms. The production of irrigated rice in southern Brazil has peculiar characteristics when compared to other agricultural activities. This research aimed to analyze the production factors of the areas occupied by the rice culture in the municipality of São Gabriel, located in the state of Rio Grande do Sul. The primary data from a statistical database were used. In a complementary way, field questionnaires containing ten variables of the 2017/18 crop were applied. Therefore, the information was tabulated and analyzed using descriptive statistics. It was verified that the rice culture is technified and with high use of inputs. The factors that most influence quality production and high productivity are: differentiated fertilization based on potassium, the use of certified and treated seeds that reduce red rice, the replacement of conventional planting with a more efficient and conservationist one. Productivity levels reach an average value of 8083 kg / ha, which exceeds both the state and national average. The information on the technological packages analyzed in this research refers to the highest productive data in Brazil, therefore, they serve as a guide for agents directly linked to the sector and for formulators of agricultural politics in Brazil. Further research should focus on the study of economic efficiency and cost reduction.

Keywords: Rice, production system, technification.


 

 

Introdução

O arroz (Oryza sativa) está presente em todos os continentes é básico na alimentação de 2.4 bilhões de pessoas1, além de fornecer a maior parte da renda principal para milhões de propriedades rurais, com uma produção mundial de 746 milhões de toneladas em uma área de 165 milhões de ha e uma produtividade 4527 kg ha2. A produção mundial de arroz não vem acompanhando o crescimento do consumo, pois nos últimos seis anos sua produção aumentou 1.09% ao ano, enquanto a população cresceu 1.32% e o consumo 1.27%, havendo grande preocupação neste aspecto1. Em 2017, o comércio mundial de arroz teve um crescimento de 10,7% e uma produção de 45.9 milhões de toneladas pela importação da Ásia, pois os países do continente continuam buscando construir estoques do cereal para limitar as tendências inflacionárias que venham a afetar o país3. A produtividade é consideravelmente alta, produzindo cada vez mais em menor área ocupada2. O Brasil está na nona colocação, produzindo aproximadamente 12´452 662 t (20% da produção mundial). Tanto a produção (90%) mundial de arroz quanto o consumo se concentram em países asiáticos, onde também se encontram nove dos 10 principais países produtores do grão: China, Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã, Myanmar, Tailândia, Filipinas, Brasil e Japão2.

No século VII o arroz foi levado à Europa pelos árabes, de lá chegou ao Brasil, trazido pelos portugueses. Em meados de 1587, já havia registros de lavouras de arroz no estado da Bahia4. A cultura se intensificou, e cresce a cada ano5. O arroz está presente em todos os estados do Brasil, nas últimas décadas a cultura tem se concentrado nos estados do sul do país devido principalmente pelas características hídricas e de solo6,7 onde existem os maiores montantes de produção e áreas cultivadas de arroz irrigado8. O arroz irrigado é cultivado principalmente nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina (86%)9 e, portanto, o sistema produtivo é responsável pela maior parte do abastecimento do cereal do país10. Existem relatos que o primeiro cereal a ser exportado pelo Brasil foi o arroz, com destino a Portugal e de lá distri buidos para outros países do continente europeu11, no presente o Brasil representa 1%, ocupando o sétimo lugar no ranking de maiores exportadores mundia is2,12.

A região sul contribui com o 79% da produção nacional13 e Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil com aproximadamente 70%13. O estado de Rio Grande do Su é também o principal responsável pela industrialização do cereal8.

O Estado do Rio Grande do Sul (RS) é o maior produtor de arroz irrigado do Brasil, (80% da produção nacional), e a região sul do RS, contribui com 20% da produção nacional13.

Nos últimos tempos a balança comercial do arroz brasileiro, apresentou na maioria dos anos, um saldo positivo, devido ao volume maior de exportações em comparação às importações14. Nas três últimas décadas, a agricultura brasileira, experimentou um forte processo de transformação, conhecido como moderni zação conservadora, embora excludente e concentradora, provocou o aumentou da produção e a industria lização, resultando na mudança do padrão extensivo tradicional para outro mais intensivo14. A produção de arroz é considerada de risco, pelas oscilações de mercado e custo, mas principalmente pelo grau de influência que o clima possui nesta cultura15.

No inicio do ultimo milênio iniciou se um projeto agronômico para o aumento da produtividade, competitividade e sustentabilidade da lavoura de arroz do Estado do Rio Grande do Sul. Por serem as práticas que mais limitavam a produtividade do arroz no estado, o projeto priorizou: época de semeadura, nutrição, fertilidade do solo, irrigação e controle de ervas daninhas. Como complemento, atentou-se a escolha de cultivares, uso de sementes de qualidade, manejo de pragas e doenças e o monitoramento de invasoras. A interação desse conjunto de práticas oportunizou o atingimento de altas produtividades16. Além, resulta claro que o arroz é a fonte de energia básica da alimentação humana, devido à alta concentração de amido, proteínas, vitaminas e minerais, e baixo teor de lipídios. No Brasil o consumo per capita é de 108 g por dia e nos países em desenvolvimento é um dos principais alimentos da dieta, fornecendo em média, 715 kcal per capita por dia, 27% dos carboidratos, 20% das proteínas e 3% dos lipídios da alimentação17. Resulta claro então, que o Brasil é um pais de destaque no concerto orizícola internacional, mas possuindo grandes diferenças produtivas regionais dada sua grandeza territorial. Nesse sentido, a análise do território consegue compreender a configuração de regiões diferenciadas com atividades locais, na ideia que o crescimento econômico e devido às condições e dinâmicas internas o que inicia uma nova fase de teorização do desenvolvimento territorial18. Desta forma, e reconhecendo que o Estado de Rio Grande do Sul é o maior produtor brasileiro, e dentro deste estado, o Município de São Gabriel esta desenvolvendo tecnologias de avançada, justifica; o objetivo perseguido nesta pesquisa de analisar os fatores de produção e as técnicas de manejo nas áreas de encrave geográfico municipal, cenário onde acontecem os maiores patamares produtivos da orizicultura do Brasil que serviram de referência aos agentes ligados diretamente ao setor e aos formuladores da política agrícola do país.

 

Material e método

Área de estudo. O município de São Gabriel pertence ao estado do Rio Grande do Sul, localizado no extremo sul do Brasil, limita com Argentina no oeste e com Uruguai ao sul. Dista 320 km de Porto Alegre (capital estadual) e possui 62 061 habitantes A cidade de São Gabriel, pertence à Região da Campanha Gaúcha, banhada pelo curso do rio Vacacaí remonta ao ano 1750, com o surgimento das primeiras estâncias jesuíticas13 (figura 1).

Figura 1 Localização geográfica de São Gabriel (editado de IBGE cidades, 201813)

O clima é subtropical úmido predominante em toda região do estado de baixa altitude. As estações são bem definidas com verões quentes e úmidos, o outono é marcado pela chegada de um frio moderado que se torna rigoroso algumas semanas antes do inverno, o qual registra temperaturas baixas, geadas, e vento forte de origem polar (minuano). A primavera possui finalmente um clima equilibrado e agradável19.

No Rio Grande do Sul, o 60% da área de várzea é aproveitada na produção de arroz, em solos do tipo Planossolos háplicos eutroficos típicos, caracterizados pela alta fertilidade, permeabilidade moderada e baixa concentração de matéria orgânica7.

Coleta de dados. Os dados coletados para a reali zação do estudo foram os relacionados a dez variáve is da safra dos anos de 2017/2018, com a pesquisa documental previa conforme Marconi e Lakatos19. A coleta dos dados foi realizada a campo, em visitas a 20 propriedades orizícolas selecionadas aleatoriamente do município de São Gabriel, e 99 produtores de um total de 119 produtores da lista operacional do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA). O ques tioná rio contemplando dez questões fechadas, foi aplicado em áreas cultivadas entre 10 e 1000 ha.

As variáveis estudadas foram: área semeada (ha), rotação de culturas, sistema de plantio, área plantada com semente certificada, densidade de semeadura, época de semeadura, variedades usadas, tipo de adubação de base, adubação de cobertura, número de aplicações de cobertura (N), área com semente tratada e produtividade.

Processamento de dados. A matriz dos dados do IR GA de São Gabriel (safra) 2017/2018 foi incluída em uma planilha eletrônica de Microsoft Excel, e pos-teriormente se realizaram se todos os cálculos de estatística descritiva e indutiva necessários através da criação de instrumentos tais como quadros, gráficos e indicadores numéricos de tendencia central e desvio20,21.

 

Resultados

A maioria dos produtores foram homens (91.61%), o total de área destinada ao plantio de arroz é de 23 163 ha, com um intervalo de tamanho superficial muito variável (mínimo de 10 há até um máximo de 1210 há); já a frequência de produtores diminui com o aumento do tamanho dos prédios produtivos (tabela 1).

Tabela 1 Superfície das propriedades orizícolas Estudadas

 

A área para a cultura pode ser subdividida entre arrendada e própria, onde os produtores pesquisados responderam que 65% deles possuem arrendamento, mais ainda alguns utilizam apenas área arrendada para a produção sem nenhum hectare próprio (tabela 2).

Tabela 2 Dependência do arrendamento para a produção de arroz

No que tange a rotação de culturas, o 60.5% dos produtores fazem este tipo de atividade, e o restante 39.5% diz que não realiza a prática, contudo apenas 16% dos produtores afirma que existe a produção de arroz consecutiva na área a pelo menos cinco anos (figura 2).

Figura 2 Prática da rotação de culturas e do cultivo consecutivo de arroz

A rotação de cultura é marcada pelo consórcio de arroz e soja, salvo um pesquisado que utiliza bovinos de corte. Dos 60.5% que fazem rotação, 58% das propriedades utilizam toda a sua área disponível.

Quanto ao tipo de plantio, identificaram se três formas bem distintas, o plantio convencional, o plantio dire to e de cultivo mínimo (figura 3).

Figura 3 Sistemas de plantio utilizados pelos pesquisados

Em São Gabriel o plantio direto é realizado, em grande parte por produtores com áreas entre 100 e 300 ha (tabela 3).

Tabela 3 Plantio direto por área

Aliado a forma de plantio, a orizicultura usa de adubação química realizada através da aplicação de diversos compostos. Dos produtores pesquisados em São Gabriel, as mais comuns são as adubações com N (Nitrogênio), P2O5 (Pentóxido de Fósforo) K2O (Óxido de Potássio) (tabela 4).

Tabela 4 Utilização de adubação nas lavouras Pesquisadas

Quando averiguou se a utilização de sementes certificadas e tratadas, constatou se que a maioria dos produtores para ter êxito procura a qualidade das sementes (figura 4).

Figura 4 Área semeada com sementes tratadas e certificadas

No mercado de sementes de arroz existe inúmeras cultivares com certificação e que podem ser tratadas para posterior utilização, e no caso da amostra estudada, as variedades mais utilizadas pelos pesquisados estão descritas na tabela 5.

Tabela 5 Variedades de cultivares plantada por área

Alguns produtores utilizam mais de uma variedade de cultivar em suas lavouras, contudo, a variedade com maior utilização pelos produtores pesquisados foi à denominada Putiá INTA CL, com um total de 80 produtores apontando utilizar a variedade, enquanto a variedade IRGA424 RI teve 56 respostas e a Guri INTA CL 53 (figura 5).

Figura 5 Uso das cultivares de arroz pelos produtores pesquisados

A produtividade das lavouras de São Gariel chegam a um valor médio de 8083 kg/ha, e a uma mediana de valor de 8046 kg/ha (figura 6).

Figura 6 Produtividade média das unidades produtivas de arroz no município São Gabriel,
Estado do Rio Grande do Sul e Brasil todo

 

Discussões

Embora a amostra esteja composta em média por propriedades de até 250 ha em sua maioria (valor extraído como média ponderada das classes de área e frequências da tabela 1), é clara a existência de uma considerável concentração da terra, pois sendo que as maiores propriedades representam apenas 6% do total de pesquisados, só sete propriedades representam juntas cerca de 30% da área total. Esta tendência concentradoram foi revelada por Buainain et al.22 quem reporta a existência de estabelecimentos cada vez menores embora mais numerosos.

A alta concentração das terras dificulta o acesso à produção orizícola, esta dependência de terras para produzir esta agravada no elevado arrendamento achado onde mais da metade dos produtores não possui terra própria (54%). O cenário desta região produtiva do Brasil e bem diferente na Província de Rios no Equador, onde apenas o 21% dos terrenos orizícolas são arrendados23.

O arrendamento eleva o risco de produção e aumenta seu custo, tornando-a menos eficiente e menos lucrativa, que segundo Chelotti e Bezzi24 no Rio Grande do Sul se apresenta como um dos mais elevados, chegando a custar cerca de USD 150/ha, enquanto em países como Argentina, o preço da terra gira em média USD 64/ha.

O método de cultivo mínimo é amplamente utilizado nas lavouras orizícola no RS, segundo Agostinetto et al.25, consiste no preparo do solo com a implan tação de pastagens ou usando a técnica de pousio, onde a área é isolada para a vegetação nativa se desenvolver. Antes do início do plantio usa-se a dissecação, para assim controlar o arroz vermelho (planta invasora). O arroz vermelho pode afetar a cultura em duas formas, na diminuição do rendimento paddy (arroz com casca)26 e na quali dade e o valor comercial do produto27.

O método convencional de plantio com uso de grada gem e revolvimento do solo vem perdendo espaço para técnicas que causam menores impactos. O plantio direto é mais sustentável, tanto em fatores econômicos como ambientais, pois não há o revolvimento da terra como no sistema convencional, e sim uma redu ção de custos de mão de obra, maquinário e combustíveis, além de conservar os níveis nutricionais do solo, como o teor de matéria orgânica e nitro gênio28.

Em relação a rotação das culturas as parcelas utilizam o plantio intercalado de arroz e soja de ano em ano (58%), os outros 42% intercalam suas produ ções no mesmo ano agrícola, tendência que pode acabar se fortalecendo devido à diversificação de culturas, e ao menor risco. De acordo com Carmona et al.29 a monocultura torna se cada vez mais insustentável por causar impactos socioambientais negativos nas comunidades que dependem da produção orizícola, embora as lavouras de arroz e soja, são uma alternativa de recuperação dos ecossistemas30. A adubação recomendada para a produção de arroz irrigado é com base em nitrogênio (N), Potássio (K) e Fósforo (P)31,32. Da tabela 4, é possível extrair que destes três elementos químicos, o de maior média de utilização refere ao postássio com uma agregação de 63.2 kg/há de óxido de potássio (K2O), uma das ex plicações para a difusão da adubação de base potássica se dá devido a sua composição oferecer um alto rendimento para a lavoura de arroz, aumentando sua produção por área, sendo que a sua recomendação pode chegar a 110 kg/ha16. O nível de nitrogênio (N) é considerado a variável ambiental mais relevante no rendimento do arroz, sendo o responsável funda mental na morfogénese, cresci mento, fotossíntese e senescência, formando parte das proteínas e muitos componentes não proteicos33. Logo do potássio o N e o elemento que mais acumu la se na planta de arroz34.

O sistema de alto rendimento é completado com a utilização de sementes certificadas que diminuem a aparição do chamado arroz vermelho28. Contudo, quando analisa se produtividade de cada cultivar utilizadas nas lavouras de arroz dos produtores pesquisados de São Gabriel, a variedade Puitiá não é a mais produtiva apesar de ser a mais utilizada. As produtividades são: IRGA 8914 ton/ha, Guri 8746 ton/ha e Puitá 7280 ton/ha. O uso da variedade Puitá pode ser explicado pela melhor qualidade de grão, associada aos preços melhores que pagam algumas cerealistas aos produtores dessa cultivar16.

O alto custo produtivo das lavouras orizícolas do Brasil, e carga tributária e baixo grau de abertura econômica que atravanca a possibilidade dos produtores adquirirem insumos externos35 e acaba refletindo no aumento dos custos do arroz brasileiro36. De acordo com Lopa da Silva36 a importação esta favorecida pois no Uruguai e Argentina existem fatores favoráveis como: qualidade do produto, carga tributária menos agressiva, juros mais competitivos para financiamento de fretes e custos de comercialização mais baixos que os do Brasil. Através da análise do índice de competitividade revelada, a produção nacional possui uma desvantagem perante outros países do MERCOSUL, sendo necessário apoio para que haja uma definição de estratégias em parceria para a conquista de novos mercados37. Estos valores superam a produtividade estadual que gira em torno de 7000 kg/ha, valor que vem se mantendo desde a safra 2005/2006 e que pela sua vez superam ainda mais a produtividade do Brasil, cerca de 5000kg/ha16.

Esta intensividade na cultura do arroz parece responder a uma tendência crescente em ou-tros países, a partir do uso de sementes melhoradas, manejo de hervas danhinas, pragas e doenças, fatores que vem permitindo o aumento do rendimento e a mantenção do nível produtivo na orizicultura mexicana38. Porém, de acordo com Gargano39 na Argentina, a forma de produção de conhecimento científico esta atravessada em toda a América Latina pela configuração das próprias matrizes produtivas, onde a acumulação de capital a nível mundial, reser-va aos países periféricos a extração de bens naturais, e os resultados das pesquisas. Por isso, o agrone-gócio argentino deveria ser revisado para transfor-mar as assimetrias. Embora o anterior, segundo40, os índices competitividade calculados para a produção de arroz foram muito baixos ou negativos para Colômbia, demonstrando, que dadas às condições atuais de produção de arroz, esse país não é competitivo no mercado internacional, em contrapartida os índices de competitividade calculados para Estados Unidos refletem um alto nível competitivo baseado em um modelo de negócio focado às exportações.

Finalmente, de forma global os aportes gerados nesta pesquisa aportam às seguintes considerações: i) o cenário dos produtores de arroz pode ser dividido em três grupos, o primeiro representado pelos grandes produtores, extremamente tecnificados, com terra própria, alto capital, e elevado retorno. Um segundo grupo de propriedades pequenas a grandes, com as caracteristicas de arrendatários, dependentes de finaciamento, com alto risco e pouca eficiência produtiva. E um terceiro grupo, representado nas pequenas propriedades familiares e assentamentos que em sua maioria produzem em baixa escala, em sistemas produtivos como a agricultura orgânica e a agroecologia. ii) a utilização de sementes certificadas é fundamental para a alta produtividade, pois provoca o mínimo de contaminação e eficiência no controle do arroz vermelho. Nesse sentido, a adubação é outro diferencial das lavouras pesquisadas, pois em maioria trocam a utilização do adubo de base nitrogenada pelo de base potássica, que torna se mais eficiente e com uma relação custo beneficio melhor, tanto em produção quanto em qualidade de produto. iii) a orizicultura está altamente tecnificada e com alta utilização de insumos, o plantio convencional vem perdendo espaço perante o cultivo mínimo e de precisão. A alta modernização cada vez mais especializada, tem como consequência patamares de elevadas produtividades de um valor médio de 8083 kg/ha., que superam tanto a média estadual como a nacional. iv) Em função da definição dos pacotes tecnológicos reportados nesta pesquisa e por serem eles os referentes aos dados produtivos mais elevados do Brasil, os dados obtidos servem de referência aos agentes ligados diretamente ao setor e aos formula-dores da política agrícola do pais. Para aumentar os rendimentos e a eficiência técnica os resultados indicam que o esforço no setor arrozeiro deveria talvez se focar em pesquisas que estudem a melhoria da eficiência econômica e a redução de custos.

 

Fonte de financiamento

A presente pesquisa foi financiada pelo Instituto Riograndense do Arroz (IRGA).

 

Conflitos de interesse

Os autores expressam a inexistência de conflitos de interesse.

 

Agradecimentos

Os autores desejam agradecer a todos os produtores entrevistados, pela sua receptividade e disposição ao acesso à informação.

 

Aspectos Éticos

Esta pesquisa não apresenta conflitos éticos com pessoas nem instituições, sendo reservada e anônima a lista de produtores entrevistados.

 

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Nota do Editor:

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